Ouço, em mim,
o canto aflito, escondido,
persistindo em não se abrir;
Inspiração a querer fugir.

Difícil, num mundo sem beleza,
Permeado por tantas tristezas,
encontrar razão para cantar,
para o meu canto sorrir.

E o canto da própria dor,
de tanto da garganta eclodir,
vai-me, também, abandonando,
escondendo-se, temeroso,
passo a passo, a esvair-se.

Contudo, a esse tempo tirânico,
a querer apagar-me o direito
de cantar e ser feliz,
de mostrar o que há de melhor,
em mim,
Encaro e grito: Continuo, aqui!

E com a alma em conflito,
cercada pelo tempo triste, perdido,
luto a reestabelecer, num grito,
o sonho de ser o que eu sempre quis.

E, por entre preleções fingidas,
Vazio e espaços, sem fim,
Manifesto o meu canto, grito
Àqueles que também cantam:
Sigam-me!

Desafio flechas velozes
do desamor, a me perseguir,
Acelero o meu olhar de águia, a voar,
Pois, na velocidade das minhas asas,
não poderão me atingir.

Alcançarei, então as montanhas,
Ao emergir-me desse mar
E pousarei no lugar mais alto,
outra vez,
A cantar, cantar e cantar
O meu sonho, em mim.

Otelice Soares
Enviado por Otelice Soares em 21/10/2010
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