(011)
horas a fio encarando o telefone
como se quisesse derretê-lo
observo todos seus detalhes
o nome, a cor, o modelo
como se aquela intimidade forçada
obrigatoriamente nos aproximasse
durmo sentado e desperto com o silêncio
se ao menos a vida lentamente andasse
imediatamente trocaria este alguém tão ausente
estico a coluna e os cotovelos
mas não tiro os olhos do aparelho
mantenho esse estranho cárcere
como se eu quisesse contorcê-lo
tal qual um uri geller solitário
se me afastasse poderia ouvi-lo
mas vigiando-o me sinto melhor
refugiando-me no conforto imaginário
de que alguém tão ausente pudesse vir a chamar.