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horas a fio encarando o telefone

como se quisesse derretê-lo

observo todos seus detalhes

o nome, a cor, o modelo

como se aquela intimidade forçada

obrigatoriamente nos aproximasse

durmo sentado e desperto com o silêncio

se ao menos a vida lentamente andasse

imediatamente trocaria este alguém tão ausente

estico a coluna e os cotovelos

mas não tiro os olhos do aparelho

mantenho esse estranho cárcere

como se eu quisesse contorcê-lo

tal qual um uri geller solitário

se me afastasse poderia ouvi-lo

mas vigiando-o me sinto melhor

refugiando-me no conforto imaginário

de que alguém tão ausente pudesse vir a chamar.