Atravessando a rua

Sossegue, coração, a moça desatenta

atravessando a rua, lá de longe,

(não te percebe.

E nem grites tu: De nada valerá

(teu grito.

– Ah! Polpa teu grito!

Ele é tão inútil quanto a esperança

que nasce comigo, cada vez que ela

sacode seus cabelos louros, e ameaça

um olhar na minha direção.

(Quanta altivez há naquele andar!)

Esperança vã, como é vã a vida toda.

A vida que passa, indiferente, como

aquela moça que vai, com esplendor,

atravessando a rua, sem sequer notar

(a mim e a ti.

Sigamos adiante a vida (essa nossa

vida vã) de poetas, e não esperemos

nada dela, por que, assim, o que nos

vier, será bem-vindo.

Atravessemos, pois, a rua, também...

cristovam melo
Enviado por cristovam melo em 21/10/2010
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