Atravessando a rua
Sossegue, coração, a moça desatenta
atravessando a rua, lá de longe,
(não te percebe.
E nem grites tu: De nada valerá
(teu grito.
– Ah! Polpa teu grito!
Ele é tão inútil quanto a esperança
que nasce comigo, cada vez que ela
sacode seus cabelos louros, e ameaça
um olhar na minha direção.
(Quanta altivez há naquele andar!)
Esperança vã, como é vã a vida toda.
A vida que passa, indiferente, como
aquela moça que vai, com esplendor,
atravessando a rua, sem sequer notar
(a mim e a ti.
Sigamos adiante a vida (essa nossa
vida vã) de poetas, e não esperemos
nada dela, por que, assim, o que nos
vier, será bem-vindo.
Atravessemos, pois, a rua, também...