11:11
O telefone toca.
Hesito.
É tarde da noite e ele toca.
E eu hesito.
É um número desconhecido.
Estico o braço e o alcanço.
E hesito.
Não conheço o número.
De quem será a voz?
Hesito, pois estou um caco.
Hesito, pois tenho insônia.
Hesito, pois minha articulação verbal
é hesitante.
Atendo e a voz pergunta por um nome.
Um nome que muito conheço.
O meu nome.
Hesito, pois não conheço a voz.
Não de imediato mas,
num segundo ato
o inesperado vira fato.
Hesito, na ebriedade do momento.
Deixo fluir, entremeada à hesitação
a virulência de tão aguardado arrebatamento.
Que surpreende com a voz que treme
e que me faz tremer, me arrepia a espinha
me retira da condição macho-seguro-dominante
num rompante me encaminha à me transformar numa mocinha.
Que perde a linha e o cabelo desalinha
enrolando-o nos dedos, que tropeça nas palavras
engrolando-as nos medos e, que desnuda
com os lábios no bocal
o mais secreto dos segredos.