Decifra-me ou...
Oi. Sabe quem sou?
Me chamam de alfa e beta
Mas sou tanto uma como várias.
Às vezes me confundem com fonema
Mas não ligo não,
Porque, outras, sou fonema mesmo.
Sou maiusculamente importante,
Minusculamente simples.
Quando sou vogal,
Não existe sílaba sem mim,.
Eu sou quem soa com as consoantes.
Como eu já disse, somos muitas.
Tal qual no fordismo,
Andamos sempre em fila,
Uma, disciplinadamente, atrás da outra;
Chamam isso de sintaxe, minha posição, sabe?
É muito, muito importante no texto.
Caminho sob o signo do verbo
Sou, muitas vezes, um indicativo
Do que impera subjetivamente.
Apareço até onde você não me vê:
Em telas, gravuras, fotografias,
Acenos, silvos, na semiótica, modos e modas
E ninguém se incomoda.
Sou a essência da linguagem
Ou a linguagem na sua excelência.
Eu, de vez em quando,
Arrumo uma amiga e dobro;
Faço guerra, terra, berra, estardalhaço,
Mas também faço flores.
Tenho uma colega chata,
Mas tão chata que, de vêz em quando,
me joga um "Hagá" na cabeça
E me diz que ninguém a pronuncia;
No entanto, não a abandonamos,
Estamos com ela na hora, na horta,
No horto, até no hospital.
Quando sou morfema lexical, sou radical,
Sou semantema, mas não trema,
Sou normal, além do bem e do mal.
Só fico uma arara quando sou "Z"
em casa, em zebra e em exemplo
Ao mesmo tempo;
Ou quando sou "CÊ" em Macedo,
Em céu, mas em "SEU" eu também sou;
Em passo, caço, traço e amasso,
Até no sábado, "cê" acredita?
Não sei mais o que faço;
Eu não existo por mim mesmo.
Saio da tua boca, do teu corpo,
das tuas coisas, dos teus modos e modas.
Sou falada, escrita, acenada...
Tem vezes que sou até calada.
Sou tantas e de tantas maneiras tântricas...
Sou tão complicada e perfeitinha
Que existe até um curso de mim.
Qué sabê? Faça letras.