Desejos de um poeta...
Não quero ser um poeta
Que aborda apenas questões
Românticas, muito menos
Sofridas, do dia-a-dia...
Não quero ser um poeta
Que escreve o que vive.
Mas, que vive o que escreve
Conduzindo a vida com as palavras...
Não quero ser um poeta
Preto e branco...
Quero demonstrar a tonalidade
Em cada letra que escrever...
Não quero ser um poeta
Famélico pelos noticiários
Putrefatos da atualidade.
Nem os de minha circunvizinhança...
Não quero ser um poeta
Que olha o espelho
E descreve a fisionomia
Como momento de amargura...
Não quero ser um poeta
Romântico, parnasiano
Simbolista ou barroco...
Quero ser a essência de um estilo singular.
Não quero ser um poeta
Seguidor da métrica e da rima...
Perfeccionista no escrever
Muito menos no agir...
Não quero ser um poeta
Simplório, informal...
Nem mesmo semi-coloquial
Quero ser a padronização ambulante.
Não quero ser um poeta
Que entra em um labirinto
E em melancolia desaba-se
Sem forças para encontrar a saída...
Não quero ser um poeta
A espera de um braço égide.
Nem mesmo que o sofrimento
Seja lenitivo em minha desdita...
Não quero ser um poeta
Que se deixa deslocar
Por uma simples ventania...
Quero ser resistente como a montanha.
Não quero ser um poeta
Que se entrega a qualquer dor...
Fazendo da situação
Uma razão à escrita.
Quero ser O poeta.
Eu, individual...
Desenhar meus pensamentos, num só risco.
Acontecimentos do meu mundo.
Quero ser O poeta.
Revolucionário,
Atualizado, pós-moderno.
Sensível a todas as situações...
Quero ser O poeta.
Amigo, companheiro...
Presente em todos os momentos
Incessantemente...
Quero ser O poeta.
Ser O poeta.
O poeta.
Poeta.