Rio e Correnteza

___ Tio, pra onde vai o rio?

___ Vai pro mar.

___ Como ele sabe onde o mar tá?

___ Não sabe não, ele faz o caminho.

___ Como assim? Não vai me contar?

Começa de mansinho,

Brotando vida d’água do chão,

Filete que escorre pelas pedras,

galhos, bichinhos,

E se junta a outros filetes como irmãos.

___ E eles vão pra que lado?

Pro lado mais caído, mais tombado.

No caminho encontram outros

que se juntam num só,

Daí começa alegria,

Serpenteando na mata,

saciando bichos, lambendo cipó.

Chega a bater a ousadia

De pular da pedra

E cavar o chão sem ter dó.

Então aparecem as cachoeiras

Alegria dos bichos com e sem nadadeiras

Espirrando água

Que se cruza com a luz do sol

Criando um arco-íris

E enfeita o arrebol...

___ Arrebol? Que é isso?

Não sei muito bem,

Mas você pode descobrir também.

Como o rio que descobre

o caminho para o mar.

No caminho descobre florestas,

Descobre terras,

Desvia, descobre e cobre,

Às vezes cheio com tudo que carrega

Às vezes vazio com o estio que o consome.

Às vezes traído pela mão do homem.

Mas o rio vai seguindo...

Ele tem uma força,

um ímpeto difícil de dominar

Dominar, domesticar, domar...

Pra que colocar cabresto

Se o rio é do mar?

Se represa, vira lago,

Quando solta, move.

Quando arrebenta, arrasta.

Quando para, morre.

Você pode olhar para um rio

já grande, largo,

Parece até calmo, esquecido dos saltos,

Mas lá no meio ainda vai a correnteza

Que arrasta a certeza

De que um dia ele vai chegar.

Rio e correnteza

de águas que se juntaram

caminhos que se encontraram

vidas que se multiplicaram

O rio é a correnteza e caminho que ela faz.

A correnteza desfaz o rio e o rio se refaz.

Gisane Dinnouti – 05/10/2010