À BEIRA DA PIA.
essas facas que
não cortam
deslizam
e nada
nenhum risco
nenhum corte
nenhuma parte separada
não respiro
nem pisco
anseio
e não vejo
a carne cortada
o pão fatiado
nada
nenhuma marca
nenhum progresso
o gume avança
sem sucesso
não atravessa
não desfibra
apenas mastiga
apenas amassa
e minha confiança no metal
se desfaz à luz da certeza
de que há perda de graça
de que há fuga de sentidos
essas facas que não cortam
silenciosamente me mostram
que me perdi
que já passei
as facas não cortam
as tesouras poupam
a gilete passeia
as foices se soltam
dos cabos
a espada titubeia
são jorge apeia
e acaricia o dragão.