No fio da navalha...

 
Em pensamento me deparo,
Logo a frente um abismo,
Um triz, um milimétrico pensar,
Faz frio,
Na fresta do tempo, vejo o ápice,
Concluo, é ele a chegar...
 
Preciso contar em poesia,
Em versos nus dizer do que me abate,
Rouba-me o sono, esvazia.
Anteparo e desamparo.
Tenho um ínfimo existir,
Um naco que sobra,
Necessito falar da ousadia,
Do desassossego que lanha a minha alegria.
 
Fiz muito, tanto, e sei, fiz quase nada,
Trilhei farpas na crua estrada,
Cortada, sangrei ânsias de rios,
Mas nem tudo logrado foi sal,
Nem sempre foram chagas abertas,
Houve lagos serenos,
Dias repletos de cores,
Nem sempre vazios,
Nem sempre sombrios,
Dias e noites amenos...
 
Se tenho uma dor, um lamento?
Tenho tantos, incertas certezas,
Exatas incertezas,
A de não ter sido melhor, mais completa,
A de não experimentar,
O riso aberto, desmedido,
O choro intenso, incontido,
Amores plenos de um só dia,
Amores de um só momento.
 
Não sei o que vem na virada,
Sei que rumo ao fim da estrada,
Findarão os sonhos, anseios e medo,
Logo porei ponto no curso, na jornada.
Mas sei quem fui e que amei,
Dei um passo, segui, caminhei,
Nem tudo é ou foi perdido,
De tudo não reclamo,
Afinal, vivi.

 

Roseane Namastê
Enviado por Roseane Namastê em 17/10/2010
Código do texto: T2562554
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