DAS PONTES

atravesso pontes

sobre rios perenes

atravesso pontes

sobre sorridentes regatos de verão

não me furto de observar as águas

calmas como em pose de oração

e há peixes entre os seixos

escamas de metal prateadas

subitamente os deixo

tenho que continuar

tenho que caminhar

mas os peixes ficam por lá

e os seixos continuam a rolar

outra ponte

esta sobre o precipício

frágil ponte

agarrada às beiradas

aponto meu nariz adiante e sigo

não há nada lá embaixo para ver

não há boa lembrança a carregar comigo

aqui voam pássaros

plumas negras de azeviche

olhos belicosos, bicos certeiros

e meu sangue quente de fetiche

porém dou minhas costas

tenho que ir

tenho que seguir

meus ossos ficam por lá

meu sangue a secar

mas insisto em caminhar

insisto em chegar

mesmo que meu corpo me abadone

em algum lugar.