PELO CORREDOR
DO HOTEL AÇORES
Era sempre aquele alvo
lá no fim do corredor:
quilômetros de segundos
em minutos pingados
a conta-gotas;
o piso escuro
o passo a passo
e enfim,
a luz no fim do túnel,
se descortina
qual oásis
para sedentos viajantes:
enfim eis ali
impávido
recortado na parede fria
o retângulo salvador.
Chega misterioso,
prosaico,
meio arcaico,
senhor de meia idade,
terno um tanto surrado,
andar já meio trôpego.
Escancarando
o retângulo-boca
engole a todos
finalmente,
rotineiramente.
Mastiga nossa pressa
e digere os corpos
num ranger de
metálicas vísceras.
Sobressalto! Estaca.
Cospe a todos
com toda sem cerimônia
para o ruído da cidade
este vetusto senhor;
rangem novamente
as juntas e,
barriga cheia,
lá se vai subindo
a besta de carga,
a caixa de Pandora
já devassada
e agora inócua.
Jaula de feras
domesticadas,
de convívios impostos.
Vai subir, vai descer,
olha a porta que abre!
cuidado menino
entra logo, olha a porta...
... é ele,
o velho senhor...
vem vindo cambaleante
redundante,
o claudicante elevador!