aniversário
todos os sons da cidade continuam iguais
as pessoas andam para todas as direções
iguais
as pombas ainda anônimas
moradores de rua meticulosamente esquecidos
a cidade continua me esperando voltar para casa
pelo mesmo caminho
o céu cinza cobre as crianças mesmo sem elas quererem
ser cobertas
cidade úmida abafada
a solidão permanece triturando a cidade
passageiros de ônibus falam entre si
sem se escutar
a cidade ainda brinca de fazer surpresas que nunca vêm
há 48 anos numa tarde assim eu nascia
estaria mais escuro?mais claro?
garoava?
gritos das mães nas salas de parto
enfermeiras saem e entram
homens e mulheres á espera
na sala de espera
que rosto tinha minha mãe ao me olhar
pela primeira vez?e meu pai?
que rosto a cidade fez na tarde?
há 48 anos
ônibus cruzavam as ruas
pessoas se amavam no escuro
beatles gritavam pela Europa
flores choviam sobre os hippies
há 48 anos a casa dos meus pais recebeu mais um morador
e meu choro se juntou aos barulhos da rua
junto aos gritos dos feirantes
e o ronco das vemaguetes
doces tardes na periferia
há 48 anos mais um pra olhar
o que se passa no mundo
ouvir o silêncio das almas cansadas
rir das brincadeiras das crianças(engraçadas)
chorar de impotência sob as ditaduras
petrificadas
há 48 anos mais um feixe de desejos
medos promessas paixões
saudades fomes preguiças
risadas choros maldições
chegou