Náufraga
Bebi de todas as taças,
Provei todos os venenos,
O orgulho perdi mil vezes
Sem nada ganhar …
Fiz promessas, ameaças,
Lutei por mais ... tive menos ...
Caminhei dias e meses
Sem encontrar meu lugar ...
Numa jangada perdida,
Náufraga dentro da vida,
Procurei terra segura
Onde aportar minha mágoa ...
À minha volta, só água
De lágrimas e desventura ...
E essa ilha encantada
Do mapa foi apagada ...
Os dias vejo passar
Em preto e branco, cinzentos
Num cerrado nevoeiro.
E mesmo se o sol brilhar
Por entre as nuvens um instante,
São tão fugazes momentos
Na vida da navegante
Que nunca é verdadeiro ...
Nada encontrei que liberte,
Nada encontrei que dê esperança,
Nem desejo de vingança,
Tão menos mero perdão ...
Por mais que meu passo acerte,
Por mais que de mim eu dê,
Nunca saberei porquê
Tão poucos sim, tantos não ...
Digo que ganho, disfarço
Que sou sempre vencedora,
Que atinjo as minhas metas ...
Mas uma dor amordaço ...
Magoa como uma espora,
Me atinge em partes certas,
Aquelas onde a razão
Não entra : no coração ...
A jangada vou levando
Cada vez mais longe e quando
De remar estiver cansada,
Esperarei com prazer
Esse fim que tanto tarda ...
O depois, não sei dizer ...
Mas sei que – oh, maravilha ! -
Haverá sol na minha ilha ...