Aguda Neblina
É verdade,
Andei sumida.
Afinal, quem não andou?
Viver e não ver nada
É estar adormecida
E despertar pensando que não sonhou.
Ando por aí
De mãos dadas com problemas
Mantendo-os aquecidos perto de mim
Sinto-me morta, apenas.
Deitada num sono inerte
Com a cabeça no pesadelo sonhar,
Que é meu mal
Eu não vivo,
E acordo sempre indo deitar.
Queria deleitar-me em sonho agudo
Da fonte mais pura que há em mim
E não sofrer com a inexistência
Do clarão avermelhado no meu jardim;
Neblina aguda
Cobre-me com esbranquiçado algodão que passa
passivo sobre minha cabeça
E me disfarça.
É verdade,
Andei sonhada.
Quem sabe por dar-me um fim
No fino fio frágil entre a realidade
E a escolha do sim.
Saltar entre as montanhas
Do meu imperfeito bosque
Na busca do acordar perfeito
No desenrolar do desenrosque
Subir muros
Esfolar idéias gastas
Construir laços seguros
Refugiar-me em novas pautas
Poder livre, voar de mim
Segura, plena em vigor
E acordar em vida
Vivendo,
E morrer.
Mas só quando for de amor.