Missão (im)possível
Tocando a vida com seu cajado
o poeta desbrava montes.
E só carrega consigo o desejo
de não desejar coisa alguma.
Entre córregos e campinas,
passeia uma ovelha sem chocalho.
O poeta lhe tem admiração
por ser simplesmente ovelha.
Não há nela misterioso ruído
e nem pretensão de macular rebanhos,
segundo diz a lei dos homens.
Não sei se o poeta quer ovelhas
ou cumprir missão (im)possível.
O seu cajado tange pensamentos
para além da sombra da tarde.
As ovelhas ruminam antes de dormir.
E por que o poeta não dorme?
- “É preciso mais que sonho
para pastorear (sem remuneração)
os carneirinhos que deslizam nas encostas
dos céus”.