AUTORRETRATO
No retrato que me faço
assim, devagar, passo a passo,
me mostro pedaço a pedaço.
Sou como a vida me fez.
Tenho branca a minha tez,
cabelos e olhos castanhos
sem os encantos tamanhos,
pois o tempo passou
e os levou.
A idade é a terceira,
verdade sim, verdadeira,
estou dizendo - acredita,
e se não sou tão bonita,
feia também eu não sou.
Muito vivi e aprendi
com os erros, as besteiras
que cometi pela estrada
nesta longa caminhada.
Sou pessoa introvertida,
não tenho facilidade
pra despertar amizades
e me fazer mais querida.
Porém é casca somente.
Meu coração é carente
de um afeto mais profundo
que venha encher o vazio
do dia longo e frio,
e da noite solitária
da qual sou presidiária
a contar cada segundo,
Eis, portanto, o meu retrato
sem enfeites, bem sensato.
Quem sabe gostes de mim,
não menti, eu sou assim.
. . .
ENCANTO É TEU NOME
(Para Helena Luna)
Tens nos teus olhos, o encanto
De castanhos, tanto e quanto
Neles eu posso me ver.
Da vida, o desencanto,
Não se fez e entretanto
Tens nos olhos o poder!
És pessoa mui querida
Alma forte, aguerrida,
Tal e qual o vento norte
Jamais serás prisioneira
Pois tens a vida inteira
P'ra conquistar tua sorte.
Não fizeste jus, no ato,
Ao pintar o teu retrato
Com o mais belo pincel.
És do amor a mensagem
A mais perfeita imagem
Da poesia em Rondel!
(Milla Pereira)
Querida amiga, que presente
encantador, generosidade é teu nome.
Meu sincero agradecimento.
Helena