[A Claridade de um Engano]
De tudo que vivemos, da tua passagem
pela minha estação, ficou um pouco...
Ficou o enigma do teu olhar ansioso
a ocultar-me os sentidos das palavras;
ficou o tom manso, calmo de tua voz;
ficou a lembrança de tuas mãos carinhosas
buscando as minhas por sobre a mesa;
ficou também [no ar] um falso quê
de desmistura de sentimentos:
nos enganamos... desde sempre?!
E o que será de nós... nada... não sei;
e não tenho tempo de saber,
apesar de ter todo o tempo...
Mas disto, eu sei: a tua passagem
em minha vida abriu uma clareira!
Basta, não explico mais: não sabemos
o que fazer com a luz — a claridade nos cega!
E, contudo, a claridade desse engano
é o que nossas almas torturadas
sempre buscaram nas madrugadas insones...
Enganos: quem é que não os comete?
[Espero ter sido suficientemente vago...]
_____________________
[Penas do Desterro, 07 de outubro de 2010]