FILHA DA PUTA, VAI DORMIR!
POEMA:
Era noite
O céu não tinha sequer um estrela
A lua não minguava uma gota de luz
Dois vinhos vagabundos
Um maço de cigarros paraguaios
Uma barra de chocolate
E três biscoitos secos e sem manteiga
Quando menos se espera
Numa ocasião dessas ou noutra qualquer
O sono vem e lhe rouba o pouco de vida que tu tens
E mais cedo do que o esperado
O sono furtou minha insônia
Deitei-me sobre a terna madorna
Quando percebi
Dormindo profundamente
Sonhei que estava dormindo e sonhando
E no sonho
Eu não conseguia dormir
Era um sonho dentro de um sonho
Acordei me perguntando:
Dormi ou não dormi?!
Continuo sem resposta, mas com a constatação
Que o sono é uma forma de morte temporária
E o despertar é um modo de insônia da morte
Que Deus dê os vinhos a um alcoólatra
Os cigarros ao demônio
O chocolate às moças apaixonadas
E os biscoitos a um mendigo
É manhã
O sol está tão opaco quanto a lua na noite de ontem
Não há nuvens nem trevas
Duas andorinhas voam se cruzando fazendo o verão
Só peço uma coisa ao homem
Que nem Deus é capaz de me dar:
Que ele me deixe em paz
E se olhe no espelho quando for falar mal de alguém
É por culpa da fofoca alheia
Que estou sempre acordado
Posso dormir no meu sono
Mas fico perambulando por aí de língua em língua