A Fome
Estou com fome.
De tudo aquilo que me tira o ar.
Quero comer os meus problemas para digeri-los....
Quero comer a própria fome,
e também a raiva, a angústia.
Devorar a dor.
Essa dor de perda.
Uma dor de nada.
Quero mastigá-los, um a um,
o desespero,
os detestáveis e desprezíveis homens que insistem em permanecer,
as famigeradas verdades que proclamamos em palanques
sob bandeiras moralistas.
Eu odeio a fome.
Porém, ela é a única certeza,
uma certeza animal, selvagem,
de que sempre falta alguma coisa,
de que sempre, assim,
seremos eternos escravos do outro.