Dispensando papel...
A poesia cabe num vão,
num buraquinho do chão,
num rasgo do coração...
A poesia cabe no vazio,
num sorriso sombrio,
num olhar meio frio...
A poesia não cabe na mentira,
na pedra que alguém atira,
nem na calúnia que ainda respira.
A poesia não cabe em versos ao léu,
sentimentos que não alcancem céu,
e assim dispensa o papel.
A poesia cabe na tinta da caneta,
no fundo de alguma gaveta,
ou no bolso de alguma jaqueta.
A poesia cabe numa máquina enferrujada,
numa agenda aposentada,
ou no olhar, de uma mulher apaixonada.