Neste único instante

A tarde silenciosa, quase muda, tomou conta

suavemente do lugar,

nada de pássaros chilreando, violinos

tocando,

meras figuras sem rosto indefinidas passeavam,

passavam sem rugidos ameaçadores,

correrias imparáveis,

pensamentos sem nexo incontroláveis vagueavam

pelo meio da cidade violenta, incestuosamente

germinadora de caos isolados

escondidos debaixo de pedras negras, sujas

de sempre pisadas, calcadas,

nenhuma novidade,

apenas uma lembrança do deserto amarelo torrado,

dos fundos de mares sem baleias gritando,

afundados navegadores famintos de sereias,

queria-me omnipresente no espaço sideral

em confins de universo desconhecido neste único instante,

irrepreensível

acondicionado na memória

desde os tempos do ventre