POETA DA MADRUGADA
A madrugada é o ponto zero do poeta.
Postado com o dedo na caneta:
careca, encaracolado, grisalho ou cabeludo,
faz do dia descanso das horas,
atravessa a noite num gole
de cicuta inebriante,
arranca do peito o sorriso, a dor,
a tristeza, a alegria itinerante e
os pesares do homem sofredor.
Deslancha um prostíbulo de pecados –
realidades idas na correnteza
dos anos arquivados na cuca.
Fecha-se na noite, navega na
maré vazante dos pescadores de
estórias geniais e deslumbrantes;
não sente frio ou sua no calor.
Ninguém está poeta ou se fez assim;
O poeta tem ligação umbilical com o mundo;
não se separa ao nascer;
ocupa espaço na intimidade d’alma.
A poesia não é delatora; é amante.
Tem acesso à intimidade do poeta,
cumpre seus mandados,
um é quase dependente da alma do
outro nos caminhos e descaminhos
da vida.