POETA DA MADRUGADA

A madrugada é o ponto zero do poeta.

Postado com o dedo na caneta:

careca, encaracolado, grisalho ou cabeludo,

faz do dia descanso das horas,

atravessa a noite num gole

de cicuta inebriante,

arranca do peito o sorriso, a dor,

a tristeza, a alegria itinerante e

os pesares do homem sofredor.

Deslancha um prostíbulo de pecados –

realidades idas na correnteza

dos anos arquivados na cuca.

Fecha-se na noite, navega na

maré vazante dos pescadores de

estórias geniais e deslumbrantes;

não sente frio ou sua no calor.

Ninguém está poeta ou se fez assim;

O poeta tem ligação umbilical com o mundo;

não se separa ao nascer;

ocupa espaço na intimidade d’alma.

A poesia não é delatora; é amante.

Tem acesso à intimidade do poeta,

cumpre seus mandados,

um é quase dependente da alma do

outro nos caminhos e descaminhos

da vida.

Zecar
Enviado por Zecar em 18/06/2005
Reeditado em 15/06/2016
Código do texto: T25369
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