## CARTAS SEM SELOS ##

Límpida como a transparência do meu desejo

As mãos molhadas sob a pena que se fez ístmo

Tentam (em vão) decifrar esse tormento

(diga-se nó, lamento...)

Que inexplicavelmente me consome...

Tudo pelo medo, de que o olhar entregue meu segredo

Tudo para explicar-lhe que é tarde

Para conter o que me invade

Tudo para detalhar-lhe o quanto manso

É amar em seu descanso...

Tudo para entender

Por que num gole de ternura

Embriaguei-me de você

E cada palavra olho, deslumbrada

Ó, minha ventura!

Como posso tornar-me cega?

Se partilhas comigo, bem sei

Os sonhos que em meus escritos entreguei

O leito do colo que ofereci

As frases de amor que jamais direi?

Dobro então mais uma vez

Esta folha que de lágrimas borrei

Guardando-a entre tantas

Em envelopes sem selos

Que jamais irão ao correio

TACIANA VALENÇA
Enviado por TACIANA VALENÇA em 30/09/2010
Reeditado em 15/09/2012
Código do texto: T2530554
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