## CARTAS SEM SELOS ##
Límpida como a transparência do meu desejo
As mãos molhadas sob a pena que se fez ístmo
Tentam (em vão) decifrar esse tormento
(diga-se nó, lamento...)
Que inexplicavelmente me consome...
Tudo pelo medo, de que o olhar entregue meu segredo
Tudo para explicar-lhe que é tarde
Para conter o que me invade
Tudo para detalhar-lhe o quanto manso
É amar em seu descanso...
Tudo para entender
Por que num gole de ternura
Embriaguei-me de você
E cada palavra olho, deslumbrada
Ó, minha ventura!
Como posso tornar-me cega?
Se partilhas comigo, bem sei
Os sonhos que em meus escritos entreguei
O leito do colo que ofereci
As frases de amor que jamais direi?
Dobro então mais uma vez
Esta folha que de lágrimas borrei
Guardando-a entre tantas
Em envelopes sem selos
Que jamais irão ao correio