CEMITÉRIO DA CONSOLAÇÃO.
nada se move
mas há movimento
um farfalhar, um pio
vozes terreno adentro
um pardal no fio
o vento pré temporal
e a visão labirintica
de que tudo converge para um comum final
um reles assobio
nada se abala
mas, tampouco, permanece
os passos curtos de um vulto esguio
e a pequena boca murmurando prece
talvez recorrendo a um conforto tardio
não se esquece
lá fora, além dos muros
a cidade finge que desconhece
ignora o fulgor daquela negra ribalta
onde velhices obscenas e amores impuros
dispõe do tempo, que agora não lhes falta
uma cena eternamente congelada
mas ativamente mutante nos sutis detalhes
os bronzes bem polidos
os anjos exuberantes na riqueza de seus entalhes
um cristo solitário de ar sofrido...
...muitas velas e jacintos
e rosas velhas para uma já fria paixão
lápides palacianas cujos sólidos recintos
guardam com exagerado zelo um mero caixão.