MINHA POESIA
És a filha que trago na barriga
gerada nem eu sei há quantos anos
oculta neste ventre que te abriga
sustida plo cordão dos desenganos
Semente grão em mim inseminado
óvulo fecundado em letargia
morosa gravidez parto adiado
que lentamente dou à luz do dia
Me alegra que vás nascendo aos poucos
com gritos de triunfo em cada dia
com risos choros e gemidos roucos
sejam de espanto dor ou alegria
Acorda-me do sono que dormi
liberta-me do sonho-pesadelo
bebe-me o seio e cantarei pra ti
o que guardei de mais sublime e belo
Meu bem meu tesouro meu unguento
minha fonte meu pão minha utopia
meu vinho lenitivo e esquecimento
meu alento e estrela que me guia!
(In Antologia Literária do Cenáculo Marquesa de Valverde
Ano 2002 - Lisboa - Portugal)