Poeta-louco-poeta
Há dias em que sou um poeta louco:
rabisco versos no reverso oco dos rebocos,
cuspo odes às odaliscas suburbanas,
e declamo sonetos e sonatas dissonantes,
alvo de alvoroços e gestos indigestos.
Corre-me arte nas artérias,
jorra-me da boca, aos bocados,
falsos falsetes em tons platônicos.
Há dias em que sou um louco poeta:
faço um trato com os tratores, extraio sêmem das sementes,
bebo as gotas esgotadas dos licores
de cores púrpuras por pura diversão.
talho com talheres os detalhes dos lírios
e os delírios que divagam no divã,
como os inventos dos ventos e as crianças que criam caso
e por acaso descobrem os discos de cobre
e os ciclos dos clones dos ciclones...