Vinho
Todo o vinho bebi, restou olhar para garrafa vazia
como um precipício sem fim, nem mar, rochas, terra,
a boca seca, espírito vazio de rápidas ideias dispersas
ansiando o néctar dos deuses falsos, vomitado de seguida
afastando o cálice,
algo profundamente aéreo, desconexo
sem conteúdo, esquecimento de saudades em passagem navegante,
por portos inseguros amaldiçoados, fugas constantemente
adiadas,
reencontros descoloridos, desinteressantes,
turvados,
pesadelos terríficos invisíveis, subindo,
descendo,
imparáveis,
ao longe um malmequer desfalecendo,
o lobo uivando fustigado por neve solta,
a cabeça tocou então a mesa, estilhaços de vidro no chão.
Abri outra garrafa sem pensar, questionar
os pensamentos proibidos, condenados,
apenas mais uma noite no escuro encontro a sós,
despedaçado,
embriagado pelas confusas palavras circunstanciais,
nada parava a loucura.