OS POETAS MALDITOS

Observando os poetas malditos

descendo do ônibus

no centro da cidade,

sinto um quê de compaixão

e perplexidade.

Com suas caixas de madeira,

cheias de guloseimas e versos,

os poetas malditos

tomam conta das esquinas.

E gritam como guerreiros

de alguma raça antiga,

gritam suas verdades,

suas histórias

em palavras de ritmo e movimento.

A cidade não os ouve,

enfurnada que está

em sua própria solidão.

Para muitos,

os poetas malditos

são loucos sem hospício.

Findo o dia,

vão para a parada

os poetas malditos

e esperam o ônibus

que os levará de volta

à periferia,

ao barraco coberto

de flandres e plástico,

paredes de madeira velha,

de compensado tufado.

Deitados em seus colchões sujos,

os poetas malditos engendram

a nova poesia.

A barriga dói de fome,

a cabeça dói de idéias,

mas a noite é um lençol

que cobre angústias

e medos e desamparo.

Os poetas malditos engendram

a nova poesia.

E a nova poesia

brota satisfeita

com a luz da manhã.