Lar, Doce Lar II

Ah, mas que desespero

É esse que me toma?

Será a vil realidade?

Olhas ao redor, pura maldade.

Não mais em Utopia,

Mundo de meus sonhos.

Acordo na realidade dos porcos

Que se chamam humanos.

Seria muita crueldade

Comparar tais animais

Com tais vis criaturas

Que somos todos nós.

Não perdão para toda

Essa atrocidade que,

Com orgulho ou ressentimento,

Chamamos de dia-a-dia.

Vou na rua e vejo mendingos

Implorando por um pão.

Vejo crianças atirando pedras

Em brancos pombos.

Vejo senhores de alto escalão

Roubando coisas fúteis.

Vejo pobres vagabundos,

Chorando por sua própria fome.

Vou na rua e vejo o céu,

Negros de fumaça, de veneno.

Vejo chaminés poluindo este ar.

Vejo chuvas tóxicas caindo.

Vejo o calor escaldante sendo preso.

Vou na rua e vejo anônimos

Jogando lixo em boeiros.

Vejo garis sendo maltratados.

Vejo animais mortos em estradas

De baixa velocidade.

Vejo mortos de colisões,

Anteriores motoristas

Verborrágicos na hora errada.

Ainda mais, que tristeza.

Vejo pregadores impondo-se

Adentre as massas apressadas.

Vejo pobres coitados

Doando tudo que ganham

Para uma Instituição hipócrita.

Que mais me faria viver?

Ver rostos alegres a sorrir?

Ver pessoas iludidas a me encarar?

Ver tolos a me questionar?

Ver os que absorveram minhas mensagens?

Talvez seja maravilhoso.

Mas, melhor seria,

Esta vida, em Utopia.

Lá não há balas de canhões

Rasgando nuvens de enxofre

Que carregam águas impuras

Que caem em ilusões inumanas.

Por ora, nada posso fazer.

Por ora, volto a dormir.

Por ora, volto a sonhar,

Com meu verdadeiro Lar.