LABIRINTOS DO SER

Quem sou? Quem és?

Quem fui? Quem ser?

Quem é? O que é?

O que é ...

Ser

Ninguém pode dizer

O que é, o que não é

Se o ser é em pé

Ou se o ser é sentado

Se o ser é aqui

Ou se o ser é ao lado

Ser eu, ser tu, ser ele

Ser ela esperando na janela

Ser isso boquiaberto num comício

Sereia na areia de uma praia

Sereno numa rede em tempo ameno

Seresta, em noite de festa enluarada

Ser nada, num choro ao pé da escada

Serrote, serrando o mundo ao meio

Ser meio, se olhando no espelho

Sertão, tão encerrado em si mesmo

Ser o mesmo, achando ser diferente

Ser série, ser normal, ser banal

Serpente, ser parte escura, ser doçura

Ser veneno, ser pequeno, ser mesquinho

Ser sozinho, avarento, ser nojento

Ser tortura, ser tontura, ser a regra

Ser entrega, ser gostoso, ser puro gozo

Ser mente, mentindo para o corpo

Ser morto, mentindo para a mente

Semente, ter a vida inteira

Ser forte, e suportar a fria esteira

Ser mudo, ser surdo, ser dormente

Ser louco para ser normal

Ser um educado animal doente

Ser surpresa, ser beleza, ser desejo

Ser faca, ser sangue, ser beijo

Será assim, tudo enfim?

Será o fim? Será prá lá?

Nossa eterna ecruzilhada

Ser tudo ao mesmo tempo

e ao mesmo tempo não ser nada?