OLHOS D'ÁGUA SECOS

Choveram cidades

[facilidade!]

pelas mulheres

chochas, chúmeas, chaveadas

por castelos de lã pouca

em cobertas

pelo tato

pelo teto

pelo samurai

de lâmina no peito aberto.

Choveram cidades

[fertilidade!]

pelas mulheres

fáceis, frígidas, futilizadas

por vitrines de butiques

em abertas

pela vidraça

pela mudança

pelo ponto vermelho

na testa dos filhos sem soluços.

Choveram cidades

[fatalidade!]

pelas mulheres

cheias, chulas, chateadas

dos andares sobre saltos

plataforma

tamanha altura

tamanha estatura

tamanha queda-fratura

por tombos levados pela vida dura.

Choveram cidades

[felicidade!]

pelas mulheres

próximas, pérfidas, paradoxais

com um ar-Deus

pelo querer,

sem mais perder,

o homem do guarda-chuvas

que aguarda o chover

para lavá-las

aos cantos mais estranhos da cidade

de ruas descalças

[pés dados]

pelos olhos d’água secos.