Vazio

Quando pensei estar liberta,
Vi-me cativa de um horizonte
Onde o sol brilha como se eu não existisse
do outro lado daquela janela.
Quando pensei estar longe,
Encontrei-me presa na lembrança,
Com saudades do que descobri vivendo o risco.
Quando pensei que minhas mãos eram fortes,
Não consegui abri-las para colher meus sonhos
Senti-me vencida pelo medo de viver a sorte.
Quando pensei em trilhar novos caminhos,
Caí na sarjeta que cobriu
-me de desânimo
entorpecendo meus sentidos, calando-me as palavras.
Quando me joguei num mergulho profundo
A fim de afogar as mágoas do meu coração,
O mar me rejeitou lançando-me sobre as rochas
Do pensamento fazendo-me remoer tristezas.
Quando quis sorrir e assim iluminar meu olhar
Veio a tempestade ignorando-me feito folha seca
Escurecendo meus olhos, negando-me a luz.
Quando tentei dormir para que tudo passasse
Sem que vivesse a desilusão e a amargura,
Fez-me companhia a fria solidão
Que, com seu vazio, assombrou minha alma.
Quando pensei esquecer a história da vida,
Virar a página do destino e romper
Com os desejos do coração,
Veio o desespero por querer pertencer
Mais e mais ao que não posso ter ou ser.
Então, pensei chorar, mas me percebi inútil,
Envolta em sombras de sonhos perdidos,
Sem lágrimas, sem ombro sem chão.