NA PORTA, HAVIA UMA MENSAGEM
Eu vos aconselho a vós, que entrais nesta casa:
Não entreis sem estardes com os pés sujos.
Não comais ao lavar as mãos e não espereis água limpa
Porque o que vos mostro é o contrário do que esperais
e procurais
Não vos realizo os vossos sonhos
Nem vos desejo agradar.
Antes, o que vos oferto
são excrementos de minha alma [sur]real
São palavras que descem sangrando de meus dedos
De meus olhos
Letras que cuspo no ar
Restos de pensamentos desestruturados
Que escorrem pelos meus narizes
Ao assinardes o livro de visitas
Não me critiqueis
Pela sala que está suja
Pela comida que era escassa
Pelo colchão desconfortável
Ou pelo banheiro pequeno demais
Nem me recrimineis por minhas palavras
Por minhas atitudes
Por minha rabugice tão precoce
Ou por minha ignorância e meu não-querer-saber
Somente digais que me compreendeis
Embora eu nem sempre me compreenda
E muito menos a vós
Não espero palavras falsas
Nem lisonjas frívolas
Quero saber que sou compreendido
[Ou quereis compreender-me
Ou ao menos tentais]
E que realmente não me amais,
Contrariamente ao que poderíeis me dizer
Quero saber que realmente vós me tendes
Piedade, e chorais por mim,
Ou, simplesmente, me ignorais, em todos os sentidos
Senti-vos bem-vindos