SEMPRE
Passei pela mesma rua ausente.
Contemplei os mesmos moradores,
as mesmas casas, os mesmos chafarizes.
Passei pela mesma estrada oculta.
Encontrei os mesmos viandantes,
as mesmas mulheres, os mesmos homens.
Entrei na mesma igreja solitária.
Rezei a mesma oração
aos pés do mesmo crucifixo.
Escutei, no silêncio da tarde morta,
a mesma canção reboando, dos sinos,
os ecos das mesmas torres do convento.
Avistei a mesma Dama Branca,
que o poeta Bandeira viu um dia,
e ela me beijou no mesmo cemitério.
Tomei, do cálice maldito,
o mesmo fel
do mesmo pecado que Adão nos deu
e morri na mesma morte.
MANUEL MARTINS