sem título

AS ÁRVORES secam

Mas a beleza fica.

A menina aborta,

A aorta se rompe,

A tragédia é rompante.

Para ter o marfim

Eles matam o elefante.

No alto-falante grita

O chefe do presídio.

Os pés dos presos

Arrastam sob o sol

(Para Graciliano Ramos

não fez diferença:

sempre esteve livre;

sempre foi prisioneiro).

As virgens pecam

Mas a beleza fica.

A terra gela

Mas a beleza fica.

A terra aquece.

A terra gela.

E aquece.

E gela.

E aquece.

Os bichos morrem.

E morre a África:

A vassoura passa.

O sol se dilata.

O Corcovado submerge

Mas a beleza fica.

Luciano Fortunato
Enviado por Luciano Fortunato em 28/09/2006
Código do texto: T251392