AS HORAS
AS HORAS
Estou caminhando no fundo do mar.
A areia é fina e pegajosa, como se não
Quisesse me deixar ir adiante ou apenas
Pedisse atenção para aquele momento.
As plantas se entrelaçam nos meus pés,
Um afago doce como o enroscar de um gato.
Tudo passa por mim de forma turva e ondulada,
É como estivesse em câmera lenta. Não tenho forças.
Os sentidos são misteriosos, podem tornar-se traiçoeiros.
Penso que tenho o domínio, mas é só mais uma ilusão.
Meu corpo esta cansado de apanhar das ilusões. Elas vão
Tornando-se cada vez mais cruéis. Estou encurralada entre
Dois mundos. Um que deixei para trás perdida na cegueira da ganância, arrastada na ilusão da juventude. Uma jornada desviada. Entrei num mundo desconhecido. Como Alice. Estou aqui sempre fugindo da “Rainha”, mas nesses anos fui esgotando todos os meus truques para escapar. Quando consigo fugir me vejo abraçada a uma ilusão. Apanho novamente.
Caio. A água fica mais turva. Peixes fogem a procura de abrigo. Tudo se recolhe na presença de um predador. Estou como uma ostra. O silêncio é balsâmico. Espero passar a tempestade. O mar volta a calmaria. Sigo. Sei que muitas ainda estão por vir. Não posso parar. Vou ficando arisca. Esperando sempre a onda gigante. Não existe mais a entrega inocente. Meu caminho é entre plânctons. Sigo cardumes na imensidão do mar.
IAKISSODARA CAPIBARIBE.