NÃO QUERO
Não quero dividir minha dor,
não quero convivas.
Ela me basta e eu a ela.
Eu a possuo e ela me abriga.
Somos veneno e cura,
porque nascidas da mesma carne
sangrada por mão ambígua ,
a mão que afaga e fere.
E que se compraz da ferida
em dissimulada piedade.
Não quero a piedade,
não a implorei.
Que não sou mulher de pedir arrego,
de chorar as pitangas.
Nem de adiar decepções.
Que não fecho meus olhos
aos reclames que cintilam com letreiros vivos
as verdades que intuo no nascedouro.
E eu os vi brilhando na noite
das revelações irrefreáveis
no entanto, desviei o olhar, que lástima.
Fui venal, fui mortal e falível
como qualquer um.
E se meus versos são de dor,
a dor é minha,
o verso é meu
dispenso sorrisos de conveniência
nesta morada.
A minha dor começa e termina aqui dentro,
e é recatada,
não se quer ao alcance de olhares curiosos,
este olhar estranho, indefinível...
E a palavra negada, rasgada
uma meia verdade dissimulada
um dar de ombros...
... quanta covardia
cabe em um só corpo!