Tudo aquilo que não há
Eu quero um mero esquecimento
Faço tanto sofrer por te lembrar
Que é melhor esquecer-se
De tudo aquilo que não há
Não há por mim um amor
Que venha de ti nem um “a”
A não ser a dor que me dá
Pensar em ti e não querer pensar
Nada me provém do teu coração
Vivo em” ais” de falta da tua emoção
Um soturno cais onde aporto
Para onde vou e não sei se volto
De tanto desamor envolto
Escrevo canções tristes
O meu olhar quão de um morto
No meu semblante, jamais me vistes
A desordem do que penso
É por causa de lembrar-te
É por causa de amar-te
Mas nenhuma causa vem de tua parte
Eu só quero um mero esquecimento
Pois a dor vem num momento
E se revolta como o vento
E deixa o tempo enluto aqui dentro...
E nada mais há
Não há musas
Nem rosas
Nem versos
Nem prosas
Só um monte de nada
Meu abandono
Minha vaga estrada
Peito meu disforme
Minha vã caminhada
Rumo por meu vazio
Pronome sem serventia
Não há posse de nada
Meu, meu, meu nada
Teu nada ai dentro
Tudo aquilo que não há
Advérbio sem nada pra negar
Pois não há por mim teu amor
Para acaso poderes o negar
Não se nega o nada
Sendo ele aquilo que não há
O verbo ser nem deveria se conjugar
O que nunca foi, não é, nem nunca será
É lástima, lágrima, sofrer, doer, chorar...
É chuva, ruína, tudo que me possa definhar
O tudo aquilo que não há....
Minha invenção utópica
Boa de se imaginar
Eu fui-me enganar
Pensando que tu eras o amor em si
Mas enfim tu és a ilusão
És tudo aquilo que não há
Este nada que existe
Define-me indefinido
Deixa-me devanear
Ao relento das madrugadas
Vendo cada estrela se apagar
Até que um outro céu
Se mostre em nenhum lugar
Sem esperança
Sem lembrança
Sem tudo aquilo que não há...