Estranhamentos
Vi aquelas mãos estranhas,
Vagarosamente fechando a tampa do refrigerante bebido no gargalo,
Depois,
a garrafa no chão,
a dona das mãos ajeitou-se no sofá,
As mãos foram então em direção a mesa lateral
Pegaram o maço de cigarros com o isqueiro empilhado
Vi os braços...
Não eram jovens,
Manchas do tempo o marcavam
De quem seriam aquelas mãos?
De quem seriam aqueles braços marcados?
O ventilador de teto zunia um compasso de tempo quebrado
Faltava uma nota... Ou sobrava?
Perto dali o som baixo da TV ligada só para fazer ruído,
Ruído de vida?
Vi as mãos, segui o olhar pelo antebraço, o braço,
baixei os olhos e vi o corpo estendido no sofá;
Estranho corpo...
Estranhos pés cruzados -
Onde andaram esses pés estranhos?
Onde levaram aquela mulher a conivências das pernas,
das coxas?
Que fomes sentiram aquela barriga?
As mãos tocam os seios, o pescoço...
O rosto,
Estranho rosto...
Ninguém mais ali a não ser aquele corpo!
Então... essa sou eu!!!
A dona das mãos? Dona? Se não toco quem quero!
Dona dos pés? Se não vou onde sonho!
Qual é o meu tempo - se tempo não há!