PÁTRIA MORENA
PÁTRIA MORENA
Nas madrugadas sombrias,
Em que as noites são ainda mais frias,
Vejo lágrimas em seu olhar,
Vejo sangue em seus poros,
Ouço o soluço de tua garganta seca,
Vejo os teus braços fortes,
Braços que não fogem a luta,
Se erguerem em preces,
Preces tão inúteis,
Pois não alcançam ao céu,
E teu brado retumba às catacumbas e aos covis,
Covis de mecenas mandatários,
Filhos de uma puta e ordinários,
Que de tuas mãos cansadas furtam o pão,
Que não é nosso,
E que também não é de cada dia,
E se tu choras é de fome,
Teu pranto é por justiça,
Cega, hansênica e surda,
E o teu povo heróico de cala...
Como nunca se calou antes...
E também chora como nunca chorara antes,
“Mais valia” o teu brado,
Do que as rajadas de estupidez que rasgam as noites,
E tu criança triste adia,
Dia-a-dia ao teu sonho,
Sonho de liberdade,
De ética,
De sentido,
De vergonha,
Que falta na cara de teus tutores,
E tua adolescência se adia,
E o sangue que jorra de teu ventre,
Não é o sangue da fertilidade,
Ele estampa a maldade,
O ódio,
O rancor de uma guerra que não acaba nunca,
Como não acaba nunca,
O teu grito,
A tua sede,
A tua ânsia,
A tua paixão,
E a tua eterna compaixão por tantos que sofrem,
A tua dor que se confunde com as lágrimas de teus filhos,
Mal paridos,
Esquecidos,
Mal vestidos,
Famintos,
E te prostituem com cada um que adentra aos teus sacros aposentos,
E se saciam de ti,
E corrompem a ti,
E te despudoram,
Em um sacrilégio que ofende os teus brios mais íntimos,
E vituperam os teus restos,
Restos imortais,
Pois em teu berço esplendido,
Repousa calado,
O teu povo,
Que se conceberam em teu ventre,
E de teu ventre sentiram a vergonha,
E amargaram hediondamente a visão de tu sendo violada,
Extorquida,
Estuprada,
Por quem que contigo deitasse,
E teus filhos,
Oh mãe gentil,
Que carregam nas cangas da história o brio polido com a dor,
Esculpido nos porões,
E ensangüentado de verde e amarelo,
Pois é verde e amarelo o sorriso dessa terra,
Deste canto,
Deste pranto maldito,
Que se finda na canção,
De que “é melhor morrer pela pátria que viver sem razão”
E a razão desponta em uma única estrela,
Que não é vermelha,
É morena,
É Brasil.
Sérgio Ildefonso 03.06.2007
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