A BOCA
Minha boca tem
O sabor e a peçonha,
A vida e a escuridão,
A certeza e o mistério.
Da minha boca saem
Um cheiro de fronha,
O hipnotismo da canção
E todo meu império.
Em minha boca,
O beijo tíbio e mortal,
A bonança e a fúria,
A tarde e o inverno.
Em minha boca,
O último castiçal,
A alma agora impura
E o amor nunca eterno.
Eis que minha boca sucumbe,
Murcha, insana e púrpura.
(Luciene Lima Prado)