Permanecer Metade
Teria ao menos um prazer
Se sentisse alguma dor
Mas essa praga de amor
Entorpece o meu querer,
Vírus letal da amargura
Percorre minhas veias
Me detem em duas teias
Uma mata a outra cura.
De mim nada mais resta
Além da mortífera ilusão
Que não deixou nenhuma fresta
Só vazio e escuridão.
É um fragmento minha vida
Um lampejo de esperança
De voltar a ser criança
Ter novamente guarida,
Quem sabe nunca conhecer
-E permanecer metade-
O que se dizem bem querer
E é um mal na verdade...
Melhor nunca ser inteiro
A ser partido em mil pedaços,
Foi a força de dois braços
Que me deu um cativeiro
Foi num beijo de amor
Que conheci o veneno
E ao luar tão sereno
Me despertou essa dor.
Tanto sangra e nunca mata
Esse tal punhal eterno
Vai do céu até o inferno
Da redenção gera desgraça.