O QUE AS PAREDES DIZEM

As paredes dizem

nada além de ‘vermelho’

ou ‘branco’

e a chama silencia meteoros

não há fogos

não há jogo

nenhum vitória a comemorar

tudo na sombra silencia

a propina no governo

o voto na cabine

a vitrine fechada

tudo se aquieta

inquieta só a alcova

e seus murmúrios

nem se respira na noite

nem um vadio

nenhum cão perdido

só o rio ácido rumina seus aços

e bagaços

e ninguém o ouve

nenhum lobo namorando a lua

ninguém na rua

nenhuma rima rara

tudo se cala

na alcova

os carros desligam motores

as dores também dormem

às vezes

nenhuma trilha sonora

nem rezas

nem macumba na esquina

não há assombro

algum ronco

e o ar secando as narinas

sombras sobram

num cenário certo para o crime perfeito

na alcova

nenhum defeito aparente

o planeta desliza

e gira intermitentemente

e ninguém nota

nenhum gota

nada de chuva ou vento

as tempestades se foram

e levaram as trovoadas

para a alcova

onde tudo se contamina

e se trama

continuamente

....

in "Meus silêncios" (4)