Alma inquieta
E quando penso em toda beleza
que há além da janela
tanta vida, coisas belas
das quais não vou conhecer
nem uma ínfima parte sequer
desse universo tão vasto
deveria dar-me por satisfeita
por tudo de lindo que vi
se não fosse essa pontada no peito
essa dor de coisa perdida
dor da que dói na partida
de um lugar aonde nunca fui
Ah! Esse diabo que vive na alma
esse que nunca se acalma
querendo pular a janela
Monalisa saindo da tela
voar pra longe, ir embora,
correr mundo, dar o fora
desconhecer data de volta
partir e chegar com o vento
uma súplica, um lamento
o meu desejo contido
ao mesmo tempo resignado
por saber-se impossível
pois como poder conhecer
desse imenso habitat
cada metro, polegada
cada ser, cada morada
nem somando vidas passadas
numa única pode ser
e chora minha alma inquieta
agoniza aflita por algo
não se sabe bem o que é,
dor que rói como traça
dos livros do meu viver
é como diz o Buarque
não adianta dormir
que essa é a dor que não passa.
pedra na minha vidraça
é sonho despedaçado
no paradoxo armado
por minha mente consciente
de que não se pode sofrer
desejando o não possível
como se o impossível
existisse, é bom saber!