Utopia

Ai de quem não alberga um ideal

e não sabe atear do fogo a chama

de quem da vida nada mais reclama

do que a mera verdade temporal

Ai de quem escorraça a utopia

esvaziando-se de vida aos poucos

dos que nunca foram chamados loucos

porque não deram azo à fantasia

Ai de quem não consegue ver estrelas

e em redor tudo o que vê é lama

de quem por baixo seu olhar derrama

e não aponta ao alto para vê-las

Ai de quem não consegue vislumbrar

a comédia escondida sob o drama

de quem nessa cegueira chora e brama

sofrendo as suas penas a dobrar

Bendito o que abraçando a utopia

ousar distribuir a sua luz

pois desse se dirá um certo dia

que mais leve tornou a nossa cruz

( In X Antologia da Associação Portuguesa de Poetas/ano 2002 )

Carmo Vasconcelos
Enviado por Carmo Vasconcelos em 16/06/2005
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