O MEU AMO
O meu amo em fúrias
E falas de arrelias
Aportou mal-humorado ao palácio
Dos sonhos e silêncio
E num estrondo resoluto
Gritou ser amo e amante absoluto!
Trovejou fortes trovoadas
Arregaçou uma camisa
De costas corroídas de pobreza
E magreza
Trovejou às paredes de casa
E tempestuou páginas revoltadas!
Mostrou um peito desmusculado
Diluído em mágoas de álcool
E cansaços de sol
Um velho-peito-robusto
Desgastado e agastado
Em magras costelas de desgosto!
Gritou gestos abruptos
No vazio das panelas
Dos bolsos rotos
Gritou desespero às janelas
E resmungou um silêncio amuado
Um silêncio, o meu pobre amado!
Depois procurou meus mistérios
E o mansinho dos delírios
Conduziu-me a novos portos
Ressonou a nova aurora
Com ventos d’outrora
Ressonou um sonho de gemidos fartos!
Décio Bettencourt Mateus