Gota a Gota (um horrível poema pós-moderno)

gota a gota

derramarei um poema pós-moderno

legítimo:

começo

espremendo o líquido verde

das minhas esperanças

gota a gota

sobre o sangue de um graxaim

que gota a gota

escorreu pelo asfalto fervente

até ser absorvido pela terra seca

que gota a gota

espargiu seu pó

sobre os meus olhos pingando lágrimas

gota a gota

não de tristeza ou de sensibilidade

porque isso há muito morrera

mas porque sobre mim caía

uma chuva ácida

gota a gota

e caía também sobre o cedro morto

de que há muito

extirparam sua seiva

gota a gota

e as cinzas de suas antigas folhas

agora fumaça pelo ar

caiam como fuligem sobre meus olhos

gota a gota

mas ainda pude olhar para os meus pés

atolados num rio

que transbordava fezes

gota a gota

e ao lado havia um cadáver

de um homem com as mãos abertas

caindo moedas

gota a gota...

www.artedofim.blogspot.com

Alessandro Reiffer
Enviado por Alessandro Reiffer em 12/09/2010
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