A palavra dormia em mim
Tão quieta como que morta
E inquieta como que presa
E entranhava-se em mim
Um verme que não se importa
Que eu não tenha defesa
E a palavra me entranhava
Essa dor perene da poesia
Para doer uma vida inteira
E esse olhar estranhava
O que do ver se distancia
E que à distância é cegueira
 
Em mim a palavra dormia
Muito antes mesmo de ser
Essa poesia que se insinua
Que me faz dormir no dia
E me acorda no anoitecer
Antes que o silêncio me possua
 
Palavra e poesia, o que revelam?
Não sou eu que estou a dizer
Esses versos que me dilaceram
As palavras que me põem a morrer
 
Poesia e palavra, o que decifrar?
Esses versos apenas ocultam
E me fazem tanto calar
O que nessa dor sepultam
 
Que cada palavra morresse
Que toda a poesia partisse
E que eu ao menos esquecesse
Tudo o que essa dor já disse...


(Poesia On Line, em 11/09/2010)
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 11/09/2010
Reeditado em 01/08/2021
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