FLAGELO

Não sei por que me oprimo a escrever

Ah! Que deleitável sensação

as palavras me trazem!

Um pouco de alívio e contentamento

Ainda não sei ao certo se é paz ou tormento

Uns dias sossego, outros lamento

Vêm como um grito e vão como um vento

Invadem minha mente,

como coisa de momento

Gritam por socorro.

Passam dias a suplicar

Buscam, deveras, um lugar para repousar

E querem isto a qualquer custo

Ignoram, se eu ao menos, as busco

Poderiam, simplesmente,

ir morrer noutro lugar!

Tão indefesas criaturas.

Não poderia eu deixar

Sem nenhum motivo justo,

sua intensa voz se calar

O que mais me incomoda

é o efeito que elas têm

Umas vezes dizem tanto,

Outras tantas nada dizem,

nem a mim nem a ninguém

Às vezes despertam ódio; outras, beijo

Às vezes são tão frias; outras, desejo!

Algum dia, pra ver se me deixam em paz,

Deixarem de ser falaz

Ainda corto a sua língua.

Por que sois tão destemidas?

E ainda buscam a minha presença

Sabendo que a qualquer instante

Posso vos deixar a míngua.