Dos filhos deste solo és mãe gentil
Deu-nos de comer a Mata Atlântica
E nos dá agora toda a Amazônica
Há de nos dar sempre muito mais
Mãe, meus dejetos onde é que ponho?
Põe nos rios, meus filhos, põe no mar
Que há tantos rios e há muito mar
Água tanta que nunca vai acabar
E se acaso acabar, haverá sempre mais
Sete Quedas, sete pecados capitais
Os pombos estão tão doentes
Mãe, onde estão os pardais?
Ainda tem arara, mãe, ainda tem?
Guardei um mico-leão-dourado
Num retrato num quadro pendurado
Asfalto, concreto, ferro e vidro
Sou tão livre atrás dessas grades
Ah, Mãe! Tão lindas tuas cidades
Com essas favelas ficando atrás
Num lugar não chove mais
Noutro lugar chove demais
Tenho sede, mãe, tenho fome
Tenho saudade de quintais
De céus azuis da infância
Das estrelas imemoriais
Tossindo, Mãe, tossindo tanto
Eu não posso cantar mais
Que barulho tão grande, Mãe
Nem ouço mais os meus ais
Quanta gente que vai
Quanta gente que vem
Tem carro, ônibus e trem
Só tempo é que não tem
Tem vida, tem morte
Tanta coisa que não sei
Que gente mais estranha
Que ninguém sabe de onde vem
Como são lindos os teus filhos, Mãe
Mas bem que mereciam umas palmadas...


(Poesia On Line, em 09/09/2010)
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 09/09/2010
Reeditado em 02/08/2021
Código do texto: T2486754
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